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Afinal, sucuris comem gente? Especialista comenta cena de Pantanal

Reprodução da Reportagem de Michael Esquer da plataforma ((o)) Eco.

Um dos momentos mais aguardados da novela Pantanal foi ao ar nesta terça-feira (4), na TV Globo. Era a vingança de Alcides, interpretado por Juliano Cazarré, contra Tenório, personagem interpretado por Murilo Benício. Na cena, o fazendeiro, e também grileiro, é atingido pelo ex-peão com uma zagaia – lança de madeira, curta e delgada, bastante conhecida na região pantaneira. O desfecho não termina aí. Foi uma sucuri-verde (Eunectes murinus), animal incorporado pela entidade de Velho do Rio, que dá fim à Tenório, após puxá-lo para dentro d’água.

Diferentemente da primeira versão da novela, onde Tenório é jogado no rio para ser devorado por piranhas, no remake é a sucuri-verde, famosa cobra da novela, que coloca um ponto final na história do antagonista. 

Mas afinal, sucuris comem gente? Para responder essa pergunta, ((o))eco conversou com a bióloga e médica veterinária Paula Helena Santa Rita, coordenadora do biotério da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), que integra o Grupo de Resgate Técnico Animal do Pantanal do Mato Grosso do Sul (Gretap/MS). 

Apesar da magia da ficção, ela diz que a cena da novela tem pouquíssimas chances de acontecer na realidade. “Ela vê o ser humano como um potencial predador e não uma presa”, explica a médica veterinária. A possibilidade de eventual ataque até pode ocorrer, mas em contexto de afugentamento – situação quando o animal se sente ameaçado –, e não de alimentação. “A gente sabe de acidentes envolvendo seres humanos, mas a chance é muito baixa”, esclarece Santa Rita. 

Estigma 

A falta desse conhecimento traz outra consequência: “Infelizmente esses animais são muito estigmatizados”, comenta Santa Rita. Mas no Pantanal, os pantaneiros coexistem com o animal. “O pantaneiro não mata esses animais. Geralmente são pessoas que não são da região, ou que estão pela região [que matam]”, enfatiza. 

Alimentação 

“Sucuris possuem o hábito generalista de alimentação. É um animal que é oportunista. Dependendo do tamanho do animal, ela pode ingerir desde pequenos roedores ou peixes, até animais de maior porte”, diz a bióloga. Uma sucuri de grande porte, comenta ela, por exemplo, consegue se alimentar tranquilamente de um suíno selvagem. 

Por terem hábitos alimentares diversificados, há até mesmo casos de necrofagia. “Existem relatos de sucuris que comeram carcaça já”, relata. No Pantanal, em específico, as sucuris preferem peixes, podendo também se alimentar de mamíferos, aves e répteis. “Dentro dos répteis, os jacarés”, acrescenta. 

Forma de predar 

Quanto à forma de predação, as sucuris utilizam-se geralmente da constrição. “O animal dá o bote, ancora a presa, faz a rodilha e inicia um processo de constrição”, explica Paula, ao também desmistificar que sucuris quebram os ossos de suas presas. “O quebrar ossos é uma consequência. Na verdade, ela vai fazendo uma constrição. Enquanto ela sente movimentação respiratória e batimento ela continua apertando”.

Ainda em contexto de Pantanal, é comum que sucuris também submerjam suas presas. O método consiste na morte por afogamento. “Ela acaba submergindo, enrodilhando a presa, e acaba que a presa também, principalmente se for mamífero, acaba morrendo afogada”, comenta a bióloga. O processo de ingestão, por sua vez, se dá logo em seguida.

As sucuris 

As sucuris pertencem ao gênero Eunectes e fazem parte da família Boidae. O nome popular designa não apenas uma única espécie, mas quatro que habitam a América do Sul. A sucuri-verde (Eunectes murinus) que aparece na novela, é a maior delas, e geralmente é encontrada na Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. 

No Brasil, porém, ainda vivem outras duas espécies, sendo elas: a sucuri-malhada (Eunectes deschauenseii), encontrada em regiões do Pará e do Amapá; e a sucuri-amarela ou sucuri-do-pantanal (Eunectes notaeus), encontrada principalmente no Pantanal, mas também em áreas do Cerrado, Mata Atlântica e Pampa.

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