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Instituto investiga morte de peixes no Pantanal

Foto:  Imasul

Reprodução da matéria de Michael Esquer para a plataforma ((o)) Eco.

Fenômeno natural ou impacto do uso de agrotóxicos? É dessa pergunta a resposta na qual o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) busca chegar após ter constatado nesta semana a morte de vários peixes em um dos principais cursos d’água que formam a planície do Pantanal sul-mato-grossense: o rio Miranda. 

Para o Imasul, a principal hipótese é que as mortes estejam ocorrendo por conta de um fenômeno natural de deterioração da qualidade da água (dequada), que acontece no Pantanal durante o período de inundação. “Agora não é o período de utilização de defensivos agrícolas. É um indício que reforça a questão da dequada. Mas nós estamos apurando para ver se consegue determinar as causas dessa situação”, disse à CBN Campo Grande nesta semana o diretor presidente do órgão, André Borges.

Do outro lado, está a hipótese da poluição da água pelo uso de agrotóxicos, alertada por ribeirinhos da região que disseram não terem relatos prévios desse fenômeno na região. “Os cara tão metendo lavoura lá em cima. Joga veneno no rio”, disse em vídeo publicado nas redes sociais um desses moradores que registrou a morte de dourados e arraias no rio.  

Para investigar o episódio, o diretor de Licenciamento do Imasul, Luiz Mário Ferreira, visitou o rio Miranda na terça-feira (21). Na água, disse ele, o nível de oxigênio dissolvido – importante para a manutenção da vida aquática – variou entre 0,6 mg/L e 1,2 mg/L, quando o ideal para peixes como o dourado e pacu é de 4 mg/L. 

“Com essa característica não tem peixe que sobreviva. Tanto aquele peixe de fundo, como o bagre, jaú e arraia, quanto esses mais de escama, de superfície, como o dourado, todos acabam morrendo”, disse Ferreira. 

O diretor de Licenciamento acredita que as mortes possam estar, na verdade, relacionadas a uma onda de água ruim que está passando pela região. “O rio enche, inunda as lagoas marginais, que ficaram muito tempo secas, e arrasta todo esse material que estava dentro delas para dentro do rio”, explicou Ferreira. “Uma água com odor bastante acentuado de matéria orgânica em decomposição. 

Se confirmada esta hipótese, diz Ferreira, é provável que essa onda continue provocando a morte de alguns peixes por onde passar, mais adiante. “Mas é uma onda só. Quando passar, a água que está vindo a montante está com melhor qualidade já”, comentou. 

Do que já foi constatado até agora, diz ele, existe forte compatibilidade com as características da dequada. O relatório final da visita técnica deve ficar pronto até segunda-feira (27), conforme disse a assessoria do Imasul a ((o))eco. 

O que é a dequada

“A dequada é um fenômeno natural que ocorre no Pantanal, de perda de qualidade de água”, conta a ((o))eco o biólogo e pesquisador da equipe de Recursos Pesqueiros da Embrapa Pantanal, Agostinho Carlos Catella. O processo, diz ele, também ocorre quando se tem uma chuva muito forte. “A água vem lavando os campos que estão secos, trazendo uma quantidade grande de matéria orgânica para o rio”. 

A desoxigenação da água, por sua vez, ocorre a partir do momento que esse material começa a se decompor. “Os níveis de gás carbônico ficam muito altos. Com isso, você tem uma asfixia dos peixes daquele corpo d’água”, comenta Catella. 

No Pantanal, ele conta que há regiões mais típicas para ocorrência do fenômeno, como o rio Paraguai. “Eu me lembro de já ter havido episódios de dequada no rio Miranda também, mas são mais raros”, completa o pesquisador. 

Nível do rio e chuvas em Miranda 

Nesta quinta-feira (23), a cota de nível do rio Miranda alcançou 650 cm, índice muito acima da sua média histórica para este período do ano (452 cm). Ainda nos últimos sete dias, a tendência do rio era de subida. Os dados são do último Boletim de Monitoramento Hidrológico da Bacia do Rio Paraguai, publicado ontem pelo Serviço Geológico do Brasil. 

Quanto às chuvas, o município apresentou um acumulado de 160 mm em fevereiro (do dia 1 ao dia 22), também acima da média histórica para o mês, que é de 134,1 mm. Os dados são do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (CEMTEC).

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