pantanal em foco

O que acontece no Pantanal.
Uma parceria ((o))Eco, SOS Pantanal e Documenta Pantanal

No Pantanal, a odisseia da primatologia e uma possível nova espécie

Reprodução da Michael Esquer da plataforma ((o)) Eco.

Situada no centro da América do Sul, a Bacia do Alto Paraguai (BAP) é formada por dois grandes ecossistemas definidos pelo relevo e pelo regime hídrico. O primeiro deles é o Planalto, onde predomina o Cerrado, e o segundo é a Planície, onde se forma o Pantanal. Também constituída de vegetação típica da Amazônia, Mata Atlântica, Chaco e até mesmo Floresta Chiquitana, é dessa bacia que um estudo inédito compilou uma lista de primatas e apresentou novas informações do que pode ser uma espécie ainda não descrita pela ciência, mas que vem sendo apontada desde 2010. 

A novidade foi publicada no final do ano passado no periódico científico Boletim do Museu Emílio Goeldi, em artigo que integra uma série sobre os mamíferos do Pantanal. O estudo é considerado inédito porque compila, pela primeira vez, em um único documento, dados de ocorrência de todas as espécies de primatas da bacia. 

“O que havia antes eram raras atualizações isoladas, mas importantes, de uma ou outra espécie”, conta a ((o))eco o primeiro autor do estudo, o veterinário Walfrido Tomas, doutor em Ecologia e Conservação. 

O artigo, que também atualiza o conhecimento sobre os primatas da BAP, faz uma descrição sucinta de cada espécie – o que inclui padrões de pelagem, classificação da espécie (taxonomia) e biologia – e compila dados sobre a ocorrência de cada espécie, com base em registros na literatura científica. “Além disso, os autores aportaram seus próprios dados sobre ocorrência, até então não publicados, para compor os mapas apresentados”, conta Tomas, que também é pesquisador da Embrapa Pantanal. 

Das mais de 127 espécies de primatas descritas no Brasil, o estudo aponta oito como ocorrentes na BAP. Entre elas, o mico-estrela (Callithrix penicillata); o sagui-de-rabo-preto (Mico melanurus); o macaco-da-noite (Aotus azarae); o bugio-preto (Alouatta caraya); e o Plecturocebus sp., que até então era descrito cientificamente como sendo o macaco-titi-do-Chaco (Plecturocebus pallescens), mas que, agora, o estudo aponta como sendo uma possível nova espécie, por apresentar características divergentes. 

Além dessas, também ocorrem na bacia o macaco-prego-de-papo-amarelo (Sapajus cay) e o macaco-aranha-de-cara-preta (Ateles chamek), espécies ameaçadas de extinção segundo a Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção, e o parauacu-de-Mittermeier (Pithecia mittermeieri), também ameaçada de extinção segundo a lista vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional da Conservação da Natureza (IUCN, da sigla em inglês). 

Entre os principais resultados, o pesquisador conta que o artigo também tem o mérito de apresentar todo o conjunto de espécies da BAP, demonstrando a sua distribuição não uniforme. “E ainda apresentar lacunas de dados em áreas da BAP que requerem levantamento de campo”, acrescenta Tomas. 

Entre macaco-titi-do-Chaco e titi-boliviano-cinza: uma possível nova espécie

Grisalho claro, pálido e com uma cauda cinzenta que não contrasta com a cor do resto do corpo. É assim que se descreve o macaco-titi-do-Chaco (Plecturocebus pallescens), espécie que ocorre no Chaco Paraguaio e na Floresta Chiquitana da Bolívia. No Brasil, estudos até então existentes indicavam que ela também ocorria em uma estreita faixa a oeste da planície do Pantanal, desde Corumbá (MS) até a Serra do Amolar (MS), também adentrando a planície pantaneira. 

O artigo recém publicado, porém, apresenta informações inéditas sobre a inconsistência entre as características dessa espécie e a que, de fato, é encontrada na região Pantanal, onde é conhecida como boca d’água. A principal diferença é a sua coloração distinta da originalmente descrita para a espécie. 

Essa divergência entre os indivíduos já tinha sido reportada em 2010, mas o que o estudo traz de novo são fotografias do boca d’água na região do Maciço do Urucum e na Serra do Amolar, em Corumbá (MS), que reafirmam suas características distintas das originalmente descritas para o macaco-titi-do-Chaco. O artigo também apresenta uma descrição preliminar da pelagem dessa possível nova espécie. 

Nada pálido e uniformemente cinza, o boca d’água — por enquanto chamado cientificamente pelos pesquisadores como Plecturocebus sp., ou seja, do gênero Plecturocebus mas ainda não identificada — é descrito no estudo como tendo cores em tom castanho-avermelhado ou amarelado na região da cabeça e bicolores tons cinza claro nas pernas e braços.

Fotografias feitas pelo pesquisador da Embrapa Pantanal e a bióloga Carolina Martins Garcia, mestre em Ecologia e Conservação e também autora da publicação, mostram essa diferença entre a espécie vista na região do Pantanal e a que ocorre no Chaco Paraguaio e na Floresta Chiquitana da Bolívia, até então tidas como uma só. “Isso acendeu um alerta de que pode ser uma nova espécie”, conta a bióloga a ((o))eco. 

“Chama a atenção o fato de que […] a coloração da pelagem é mais congruente com certas caraterísticas de P. donacophilus (titi-boliviano-cinza), incluindo orelhas conspicuamente brancas, embora as características ainda possam ser consideradas intermediárias entre P. pallescens (macaco-titi-do-Chaco) e P. donacophilus (titi-boliviano-cinza)”, diz trecho da publicação. 

Ou seja, o estudo relata que a espécie até então descrita para a região do Pantanal apresenta, na verdade, características que o situam no meio termo entre um macaco-titi-do-Chaco e um titi-boliviano-cinza – este último caracteriza-se por ter cauda contrastante com a cor do corpo e longos tufos brancos nas orelhas. E é justamente por conta disso a hipótese levantada de que ela seja uma nova espécie ainda não descrita pela ciência.

Com base em amostras genéticas coletadas, a descrição desta possível nova espécie deve ser conduzida daqui em diante, através de genética molecular. 

No Brasil, essa provável nova espécie não ocorre na planície do Pantanal, como diziam os estudos até então existentes que a apontavam como sendo o macaco-titi-do-Chaco. O boca d’água, na verdade, apenas situa-se na região do bioma, ficando restrito à faixa montanhosa ao longo da fronteira com a Bolívia, em Mato Grosso do Sul, mostra a recente publicação. “Ao que tudo indica, o rio e as suas áreas de inundação atuam como uma barreira para esses animais, impedindo sua dispersão para a planície”, cita trecho do artigo.

Se confirmada como sendo de fato nova, essa espécie ainda apresenta outra novidade inédita: as diferenças na cor da pelagem entre machos e fêmeas. “Essa diferença não ocorre em nenhuma espécie conhecida deste grupo de primatas”, relata o pesquisador da Embrapa Pantanal, se referindo aos gêneros Plecturocebus, Callicebus e Cheracebus, conhecidos como sauás e zogue-zogues.

À esquerda fêmea e à direita macho de boca d’água (Plecturocebus sp.). Macho tem tons mais escuros nos pelos da face até a região da barba. Foto: Carolina Martins Garcia

Na lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN, o macaco-titi-do-Chaco (Plecturocebus pallescens) é listado como “Menos Preocupante”. Já o boca d’água (Plecturocebus sp.), possível nova espécie, por conta da ocorrência restrita no Brasil e, sobretudo, da insuficiência de dados sobre populações e classificação enquanto espécie, ainda não tem status de conservação definido. 

Na bacia, as ameaças para os primatas 

Essencialmente arborícolas, os primatas da BAP tem nas áreas de Cerrado e em ambientes florestais o seu habitat natural, descreve a publicação. Por conta disso, o desmatamento se converte na principal ameaça desse grupo. “O desmatamento leva à perda da área de habitat disponível”, conta o pesquisador, ao apontar também a perda de recursos como uma consequência disso. 

Na sequência de impactos provocados pelo desmatamento está também a fragmentação de habitats, que isola subpopulações de primatas na região. “[Isso acaba] aumentando o risco de falta de recursos em manchas menores de habitat, e levando a endogamia (reprodução entre parentes) nas populações isoladas”, diz Walfrido. 

A febre amarela, que entre 2017 e 2019 assolou diversas regiões do País com uma epidemia, é um tipo de infecção que também figura como uma ameaça mortal para os primatas, podendo, segundo Walfrido, “rapidamente extinguir espécies em situação de população isolada”.

Por fim, e não menos importante, estão os incêndios catastróficos, seja de causas naturais ou iniciados pela ação humana, que são intensificados por condições climáticas.  “Além de causar mortalidade imediata, podem degradar habitats, diminuindo a qualidade destas áreas em função de redução na disponibilidade de recurso, entre outros efeitos”, conta o pesquisador. 

O agravante dessa ameaça, em específico, está no cenário de agravamento de climas mais quentes e mais imprevisíveis, que deve ser provocado por conta das mudanças climáticas globais, diz Tomas. “É uma ameaça considerável porque, além de aumento no risco de incêndios, pode haver uma alteração na composição da vegetação, na produtividade dos recursos chave para os primatas”, alerta.

Macaco-aranha-de-cara-preta

Macaco-aranha-de-cara-preta. Foto: Miguelrangljr/Wikimedia Commons

Mais ameaçada das oito espécies de primatas que ocorrem na BAP, o macaco-aranha-de-cara-preta (Ateles chamek), especificamente, é classificado como “Vulnerável” para o risco de extinção pela Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção e como “Em Perigo” para o risco de extinção pela lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN.

Com registros no Peru e Bolívia, no Brasil a espécie se distribui principalmente na porção ocidental da Amazônia, também ocorrendo em áreas de transição da Amazônia com Cerrado e na borda noroeste da BAP. O estudo descreve sua dieta como constituída, principalmente, de frutos, com consumo eventual de folhas, brotos e invertebrados

“É uma espécie intimamente associada a ambientes florestados. No Cerrado e no Pantanal, seus registros recentes ocorreram estritamente em fragmentos de floresta semidecídua e florestas ripárias, como as encontradas nas margens dos tributários do rio Paraguai”, cita a publicação.  

Ainda conforme o artigo, o registro da espécie na parte alta da BAP, representa o limite sul da sua distribuição, que atualmente está localizada a pelo menos um km fora do limite do Pantanal, que foi revisado pelo IBGE em 2019. 

Entre as características que fazem o macaco-aranha-de-cara-preta ser o mais ameaçado, apesar de sua ampla distribuição no sudoeste da Amazônia, chegando até às margens do Pantanal, estão: a necessidade de habitats extensos e produtivos; maturidade sexual tardia; e um intervalo entre partos consideravelmente longo. 

“A taxa de reprodução é relativamente baixa, o que faz com que a possibilidade de recuperação das populações seja limitada”, explica o pesquisador da Embrapa Pantanal. Soma-se a isso também, diz ele, a já conhecida ameaça da expansão agrícola, que, incidindo em grande parte da área de ocorrência do primata, provoca a diminuição e fragmentação de habitats.

Macaco-prego-de-papo-amarelo

Macaco-prego-de-papo-amarelo. Foto: Carolina Martins Garcia.

Classificado como “Vulnerável” para o risco de extinção tanto pela Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção quanto pela lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN, o macaco-prego-de-papo-amarelo (Sapajus cay) ocupa diferentes formações florestais ao longo de sua distribuição. 

“Porém, selecionam matas ciliares e de galeria de rios e pequenos córregos, o que demonstra a importância das Áreas de Preservação Permanente (APPs) para a espécie”, conta Garcia, que estuda o primata no Pantanal.

Por conta do tamanho dos grupos, dieta – composta principalmente por frutos, sementes e insetos – e outras particularidades, esses animais demandam áreas relativamente grandes para a sua sobrevivência. “Podendo chegar a mais de 300 ha, o que equivale a 364 campos de futebol”, diz a pesquisadora. 

Garcia reafirma que para essa espécie a principal ameaça, além das já citadas anteriormente para as espécies da BAP – como a perda e fragmentação de habitat –, está também a mineração, além da falta de planejamento da ocupação urbana e rural. 

Os impactos dos incêndios de 2020, que afetaram direta e indiretamente as populações da espécie — diminuindo a oferta de alimento, abrigo e outros recursos essenciais —, somado ao cenário de agravamento de mudanças climáticas, que potencializa a ocorrência de novos incêndios, deixa um cenário dramático para o macaco-prego-de-papo-amarelo. 

“Nesse contexto, podemos dizer que as ameaças para a espécie são crescentes e que não há perspectiva de melhora a curto ou médio prazo”, diz ela. 

Parauacu-de-Mittermeier

Endêmica do Brasil, o parauacu-de-Mittermeier (Pithecia mittermeieri) é classificado como “Vulnerável” para o risco de extinção segundo a lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN. A espécie, porém, não consta na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção. No estudo, o parauacu-de-Mittermeier é descrito com ocorrência predominante na Amazônia, tendo também registros em áreas de transição do Pantanal, Cerrado e Amazônia. 

“Na BAP, a espécie tem sido raramente registrada na porção norte, nas sub-bacias do Sepotuba, Jauru e Paraguai, não chegando à planície do Pantanal, sendo que o registro mais ao sul encontra-se a pelo menos um km do limite do bioma”, cita o artigo. 

Assim como o macaco-prego-de-papo-amarelo (Sapajus cay) e o macaco-aranha-de-cara-preta (Ateles chamek), o parauacu-de-Mittermeier também é ameaçado pela perda e fragmentação de habitats. Diferentemente do macaco-aranha-de-cara-preta, porém, a espécie, juntamente com o macaco-prego-de-papo-amarelo, não tem características biológicas restritivas e nem exigência de habitat. 

“Ainda assim, o contexto geral das condições de habitat e das tendências observadas atualmente levam essas espécies a serem consideradas vulneráveis”, conclui Tomas. 

Medidas mitigadoras

Em meio às ameaças listadas, também são sugeridas pela publicação medidas que são fundamentalmente importantes para a conservação dos primatas na BAP. Dentre essas, Walfrido aponta três como principais: a diminuição do desmatamento; a garantia de conectividade entre manchas de habitats remanescentes; e a diminuição de incêndios em habitats florestais.

“A fragmentação de habitats e isolamento de subpopulações são aspectos que podem ser abordados com melhor planejamento territorial, evitando a criação de fragmentos, mantendo e implementando novos corredores conectando manchas de habitat”, comenta o pesquisador. 

Nesse sentido, a Embrapa Pantanal e a WWF-Brasil publicaram uma proposta inédita no final do ano passado, que traz um amplo mapeamento dos principais corredores de biodiversidade da BAP, assim como os mais importantes remanescentes de vegetação nativa de ambientes florestais e savânicos, como mostrou reportagem de ((o))eco

“O que pode servir de base para políticas públicas para manter e recuperar a conectividade das paisagens na região”, conta Tomas, líder do estudo, ao defender que este trata-se da maior rede de corredores ecológicos mapeados no País. “A manutenção e restauração ambiental favorece a conservação dos primatas”, acrescenta. 

Quanto aos incêndios, o pesquisador defende a importância da adoção de critérios baseados no conceito de manejo integrado do fogo, definindo onde, quando e com que frequência o fogo deve ser usado – com exceção de habitats florestais, que não podem ser alvos da prática. Isso para prevenir a ocorrência de incêndios em regiões como a BAP e a própria planície pantaneira, que, situadas entre Cerrado e Pantanal, “são ecossistemas savânicos, onde o fogo não deve ser excluído”, diz ele. 

Essa prática de manejo integrado do fogo, conta o pesquisador, serve para evitar o acúmulo de biomassa vegetal, que em ecossistemas com a BAP se torna combustível para incêndios catastróficos. “Savanas são ambientes dependentes do fogo, e sua exclusão, além de alterar a composição e a dinâmica da vegetação, leva a um acúmulo dessa biomassa”, explica Tomas.

Garcia, por sua vez, também aponta a recuperação de áreas degradadas como um caminho possível para a mitigação de ameaças. Desde 2018, ela monitora macacos-prego-de-papo-amarelo nas proximidades do Maciço do Urucum, em Corumbá (MS) — onde fica um empreendimento de mineração de ferro —, com base em dados de GPS-telemetria.

Lá, esse monitoramento já propôs o planejamento das áreas de recuperação, que tem o objetivo de restaurar a conectividade em pontos específicos e mais urgentes. O referencial para isso é, justamente, a perspectiva da movimentação dos primatas dentro da região onde está o empreendimento. 

“Se cada um fizer sua parte para compensar seus passivos ambientais de forma planejada e adotar medidas baseadas em informações científicas, avançaremos muito não apenas na conservação dessa espécie como também de tantas outras que serão beneficiadas por tais ações”, comenta a bióloga. 

Avaliações regionais e a sua importância

Somadas às medidas que servem para mitigar ameaças e preservar os primatas da BAP, o estudo também recomenda uma análise mais regionalizada da fauna ameaçada de extinção, com a elaboração de listas estaduais.

“É importante que os estados elaborem suas listas de espécies ameaçadas para permitir uma análise mais local em relação às listas globais e as nacionais”, explica Tomas ao apontar que uma mesma espécie pode estar em boas condições em um estado, mas não em outro, ou vice-versa. “Uma lista nacional pode não refletir com exatidão a situação de uma espécie no estado”, acrescenta. 

Em vista disso, uma lista preliminar da fauna ameaçada de extinção no estado de Mato Grosso do Sul foi entregue ao Executivo Estadual no ano passado. Nela, por exemplo, foi sugerida a inclusão do macaco-da-noite (Aotus azarae); sagui-de-rabo-preto (Mico melanurus); e tanto o macaco-titi-do-Chaco (Plecturocebus pallescens) quanto o boca d’água (Plecturocebus sp.) como “Vulnerável” para o risco de extinção no estado. Atualmente, essas espécies não estão listadas como ameaçadas em nenhuma lista, seja nacional ou global.

A lista propositiva preliminar também recomendou a inclusão do macaco-prego-de-papo-amarelo (Sapajus cay), já listado como “Vulnerável” tanto na lista vermelha da IUCN quanto na lista do Brasil de espécies ameaçadas de extinção. 

O pesquisador cita o exemplo do sagui-de-rabo-preto (Mico melanurus), sugerido na lista preliminar, para ilustrar a importância das listas estaduais. Em Mato Grosso do Sul, a espécie ocorre apenas em uma estreita faixa de terras mais altas no município de Corumbá (MS), ao longo da fronteira com a Bolívia, mesmo que se saiba que ela tenha uma vasta área de distribuição – que inclui Brasil , Bolívia e Paraguai.

Ou seja, em território sul-mato-grossense o risco do sagui-de-rabo-preto desaparecer, caso a espécie esteja exposta a perda de habitat, é maior do que no Mato Grosso, onde ele ocorre em uma ampla região. “Aqui estamos falando de desaparecimento local, mesmo que a espécie continue abundante em outros estados”, alerta o pesquisador. 

 Sagui-de-rabo-preto (Mico melanurus), não listado como ameaçado nem na lista vermelha da IUCN nem na lista nacional de espécies ameaçadas, mas sugerida em lista propositiva preliminar de espécies ameaçadas de Mato Grosso do Sul. Foto: Carolina Martins Garcia

Entregue ao governo em julho do ano passado, o documento é o pontapé inicial para a publicação de uma lista estadual de avaliação do status de ameaça de espécies da fauna sul-mato-grossense. 

No caso das quatro espécies sugeridas para serem incluídas nessa futura lista de fauna ameaçada no estado, a sugestão ocorre em grande parte por conta das ameaças que rondam esses primatas no Pantanal e na BAP, dentre as quais estão a sua distribuição restrita, perda de habitat pela mineração, desmatamento, crescimento urbano, crescimento industrial de calcário, ferro e manganês, atropelamentos em rodovias e incêndios florestais. 

A lista propositiva ainda é preliminar. Ou seja, ainda requer a avaliação de um grupo mais amplo de especialistas para ser consolidada e, então, adotada como lista oficial de Mato Grosso do Sul. 

Mas a importância do documento se resumirá na relevância para a “tomada de decisões pelos estados, incluindo processo de licenciamento, análise de crimes ambientais, estratégias de manejo e estabelecimento de áreas protegidas”, conclui o pesquisador da Embrapa Pantanal. 

Pantanal em Foco: uma parceria ((o)) Eco, SOS Pantanal e Documenta Pantanal.